Por Diego German de Géa /// Fotos: Vitor Tavares
No mercado automotivo atual, qualidades que outrora impunham respeito como confiabilidade mecânica, potência, estabilidade, entre tantos outros não bastam para tornar um produto mais atraente: É preciso ter grife, ser cobiçado, por vezes cultuado.
Uma estratégia muito usada pelas fabricantes, é a de lançar produtos de baixo volume de vendas, e pouco lucro, focados a um consumidor de maior poder aquisitivo, mas que enobreçam a imagem de todos os outros modelos mais acessíveis. É o carro convencionalmente chamado de "carro de imagem". Existe aí, porém, um pequeno paradigma: é difícil convencer um comprador de marcas Premium como BMW, Audi, ou Mercedes Benz, a adquirir um veiculo de uma marca sem prestigio, com a imagem de carro popular tão presente no imaginário dos consumidores. Fato que aconteceu com o fracasso da Volkswagen, chamado Phaeton, que tinha pretensões ambiciosas para o segmento de alto luxo, mas empacou nas vendas.
A Citroën foi além. Criou uma "marca de imagem", da mesma forma que a Honda criou a Acura, que a Toyota criou a Lexus, e que a Nissan criou a Infiniti. E para batizar sua divisão de luxo, celebrando 90 anos de sua existência, a Citroen escolheu o nome de um dos modelos mais iconológicos, sofisticados, e futuristas da sua história, o DS19.
Meu avô, durante breve parte da sua vida, se entregou aos encantos da "cidade luz" com toda sua beleza, charme e glamour.
Uma das experiencias que lhe renderiam uma ótima conversa de bar pro resto da vida, foi a fabulosa sensação de andar pelas ruas de Paris a bordo de um Citroën DS19. Afinal, que outro carro em 1956 vinha equipado com suspensão a ar regulável em altura ao toque de um botão, freios a disco e direção hidráulica?
O poder de fascínio deste carro foi tão grande, que as histórias perduraram, e na Europa passaram de geração para geração, enobrecendo neste imaginário o par de letras "DS". Deste retorno, surgiram os modelos DS3 (que já está sendo vendido no Brasil), o DS4, e o DS5.
Acompanhamos em primeira mão no nosso país a apresentação dos dois últimos modelos, que serão vendidos no Brasil em 2013, e a impressão que tivemos foi muito positiva.
O DS4, hatch médio com plataforma derivada do novo C4 (vendido na Europa), foca diretamente em versões mais básicas dos BMW Série 1, e para isso recebeu conteúdo mais sofisticado. Previsto para ser vendido no nosso país, no começo de 2013 por R$100.000, virá equipado com o já conhecido 1.6 THP (Turbo High Pressure) do grupo PSA, e que equipa modelos como Peugeot 3008, 408, e o esportivo RCZ. Curiosamente este motor foi desenvolvido pela PSA em parceria com a própria BMW, e rende 165 cavalos de potência.
O interior possui um design moderno, com acabamento predominantemente escuro de muito bom gosto. Falando em teto, apesar da curvatura acentuada do mesmo, o espaço interno é garantido. Itens raros em um Citroën se fazem presentes: freio de estacionamento com acionamento elétrico, faróis de neblina direcionais, bancos dianteiros massageadores, entre outros.
Já o DS5 apresenta ainda mais requinte, sendo desenvolvido para ser o supra-sumo da engenharia automotiva francesa. Não a toa é o atual carro oficial do presidente francês François Hollande. De uma beleza marcante, aliado a belas rodas aro 19, chega a ser difícil inseri-lo em uma categoria estética: Crossover, hatch, shooting break estão entre as mais próximas.
O interior, um show a parte! Sentado na "poltrona" do motorista, digo sem titubear que este chega a ser o console de um veiculo de produção mais parecido ao de um Airbus A320, mérito dos comandos dispostos no teto de forma semelhante ao de um moderno jato comercial. A sensação de modernidade, conforto, tecnologia, e ergonomia transformam a experiencia de entrar no carro, em uma visão de vanguarda, uma sensação de estar em um carro a frente do seu tempo, tal qual outrora meu avô sentiu a bordo do glorioso DS19...
Mas como nem tudo são flores na legislação brasileira, o moderno motor Hybrid4 com motor diesel de 163 cavalos (que atende as rígidas normas de emissão européia, ou seja, deve poluir menos do que muito carro nacional...) aliado a um elétrico de 37 cavalos para o eixo traseiro, ficará de fora do nosso mercado, e dará lugar provavelmente ao mesmo 1.6 THP do DS4.
Não é preciso pensar muito para entender que este motor não é adequado para um carro de exatos 1.660 quilos, seja em torque, seja em potência, portanto grande parte do seu sucesso no Brasil deverá depender desta decisão do grupo PSA.